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Representatividade paulista em nível nacional

Olhando para um recorte mais específico, como em Adamantina, sua cidade, quais são os principais desafios com os quais as profissões e o Sistema se deparam?

Quando falamos de uma região como Adamantina, que faz parte da Nova Alta Paulista, devemos considerar todas as variáveis presentes. Até alguns anos atrás, havia muita evasão de mão de obra local, pois não tinha oportunidade de desenvolvimento. Com o passar dos anos, como em grande parte do interior de São Paulo, as pessoas voltaram a migrar para a região em busca de mais tranquilidade e segurança pública. Brincamos que, no passado, quando uma pessoa queria trabalhar, ela ia para uma região metropolitana ou para a capital. Quando consolidava sua vida econômica, ela voltava para o interior para aproveitar o estilo de vida. Mas isso mudou e muito pela produção agrícola, que deu um boom econômico na Nova Alta Paulista, fazendo com que os municípios começassem a crescer.

O que falta hoje? Planejamento. Falta pensar nas cidades desde o crescimento do número de habitantes, infraestrutura, poder econômico. Ainda temos municípios com extremas dificuldades do crescimento desordenado, que levam a problemas de drenagem urbana, mobilidade e segurança pública. Mas, por outro lado, temos também uma grande oportunidade em mãos, porque o Brasil vai se consolidar como um grande produtor de agronegócio, que é o potencial local. Isso significa que não adianta ter uma visão bairrista, é preciso olhar regionalmente.

As rotas bioceânicas, por exemplo, que pretendem ligar os oceanos Atlântico e Pacífico, conectando os portos de Santos, no litoral de São Paulo, com as baías do Chile, Paraguai e Argentina, devem mexer com toda a nossa produção e distribuição de commodities. É uma possibilidade de desenvolvimento logístico que só vai ser atraída se houver um rol de profissionais, dentro de suas pluralidades, que pensem em toda a cadeia produtiva. Somente quando se fecha todo esse circuito [entre mão de obra, demanda e planejamento] é que se chega ao desenvolvimento almejado.

Podemos dizer, com isso, que, se houver um profissional no momento do planejamento, chegaremos em resultados mais efetivos?

Sim, precisamos dar condições e acreditar que esses profissionais podem e são capazes de fazer o desenvolvimento. Nossa maior responsabilidade hoje, enquanto Sistema, é levar essa discussão para que a sociedade cobre também a participação de engenheiros, agrônomos, geocientistas, tecnólogos e designers de interiores na construção das políticas públicas. Devemos mostrar que é possível fazer isso e que, quanto mais investimos, conseguimos atingir todo esse ciclo. Nosso trabalho [da autarquia] não é só garantir o profissional no cargo, mas que ele esteja em plena atividade e desenvolvimento de toda sua capacidade técnica para boas ações de inovação tecnológica e compromisso com a cidadania.

Você diria que, por haver uma demanda muito maior do que o número de profissionais disponíveis, o déficit tem impactado nas entregas da área tecnológica para a sociedade? Tanto na região da Nova Alta Paulista quanto no estado como um todo.

É preciso equilibrar a situação. Precisamos gerar profissionais com a capacidade que as demandas exigem e essa balança é desafiadora. Hoje, nossa missão é trazer também as instituições de ensino superior para que evoluam em um mesmo ritmo que o Sistema, as profissões e o próprio mercado. As iniciativas como Crea-SP Capacita, Estágio Visita, Crea-SP Jovem buscam atender essa demanda para apoiar o ingresso e a capacitação contínua para atuação profissional.

A ponte para conectar as universidades, o mercado e o futuro profissional é o Sistema. O Conselho é fundamental para isso e deve se adaptar para esse momento. Não é um trabalho fácil, porque precisamos ser disruptivos ao longo dos 90 anos de Confea e Creas, trazendo um posicionamento institucional e de função, que é extremamente importante para o país e para o cidadão.

O Colégio de Instituições de Ensino Superior de São Paulo (CIES-SP) é um colegiado permanente que está entre o Sistema e a instituição de ensino e faz essa ponte. Trata-se de um recurso que contribui para a retroalimentação dessa relação. O que você tem a dizer sobre isso?

 O CIES-SP faz parte do ecossistema do Conselho, em que temos também o CDER-SP [Colégio de Entidades Regionais do Estado de São Paulo], as Comissões Permanentes e especiais, o plenário, entre outros. Toda essa cadeia visa a valorização profissional e a garantia da atividade regulamentada. Se todos convergirem em ações integradas, teremos uma sociedade melhor, mais equilibrada, mais igualitária, mais sustentável e com mais desenvolvimento. São iniciativas que mantêm a relevância do exercício legal, pois sabemos a importância de garantir que a atividade continue regulamentada, mas precisamos evoluir para que o profissional tenha sua valorização e para que consigamos chegar onde precisamos.

Como tem sido o seu papel enquanto conselheiro federal e olhar para esses temas junto aos representantes de outros estados?

Tem sido muito gratificante estar aqui ao longo desse período. Já fui profissional fora do Sistema, fui presidente de associação, tive a oportunidade de atuar como funcionário do Crea-SP e, agora, estou como conselheiro. São óticas completamente diferentes, mas é uma bagagem que contribui para o meu compromisso com as profissões e com o Conselho.

O mais interessante de ter contato com os demais conselheiros é que, ao tratar do Sistema em âmbito nacional, vemos a magnitude do Brasil. Existem atividades, gestões e dificuldades diversas. Até agora, o que posso dizer, é que 2024 foi, com certeza, um ano de argumentação de propostas, de planejamento e organização. Agora, em 2025, estamos na operação. Já tivemos a revogação de mais de 30 normativos que não tinham mais sentido em existir e que passaram por uma revisão entre os conselheiros; e trouxemos também a discussão da atividade profissional internacional, tanto de quem vem atuar no país quanto de quem vai para fora, para que não haja impeditivos que atrapalhem a ascensão profissional e a garantia do exercício legal; entre outras ações.

Todos os conselheiros que estão aqui entenderam que devemos evoluir a atuação e a legislação profissional, desburocratizando o Sistema. O centro de nossas discussões está em como melhorar a vida do profissional e parte de questionamentos importantes: qual a visão de futuro temos para o Sistema? O que esperamos com tudo que estamos fazendo? Foi basicamente o que pensamos quando começamos o Crea-SP Jovem, lá atrás. Precisávamos melhorar o lugar em que estávamos e nos movimentamos para isso. Não quero estar no Sistema daqui 30 anos, quero que outra pessoa – que trilhou esse caminho que propusemos – possa ocupar esse espaço.

A ciência e a tecnologia estão evoluindo e o profissional da Engenharia é quem pode transformar isso em algo tangível para o cidadão, gerando soluções para saneamento básico, educação, mobilidade, acessibilidade e outros indicadores de qualidade de vida. Se conseguirmos evoluir o Sistema, evoluiremos a atuação profissional e a nossa entrega para a sociedade.


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